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Há espaço para lucrar no e-commerce?

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08/11/2017

Não há dúvidas de que o e-commerce brasileiro vai muito bem, obrigado. O setor fechou 2013 com crescimento de 29%, de acordo com dados da Associação Brasileira de E-Commerce (ABCOMM), e conta com verdadeiros fenômenos no mercado, como a Dafiti e a Netshoes. No entanto, há algo pouco comentado sobre esses grandes players: com pouco tempo de vida, eles cresceram, e muito, mas não lucram. Fecham no vermelho mês a mês, e comemoram.

É com felicidade que a Dafiti opera no vermelho. A empresa revela que sua estratégia é crescer e conquistar mercado – o mais rápido possível. Por isso, investe tudo o que ganha em marketing. Por enquanto, o plano vem dando certo. Em três anos, a empresa tornou-se líder no segmento de moda online e chegou a uma receita de aproximadamente R$ 800 milhões.

De acordo com Marcel Malczewski, sócio do fundo de investimentos Trivèlla M3, o e-commerce brasileiro vive uma verdadeira corrida do ouro. Por isso, é comum as empresas do segmento desejarem ganhar território. Porém, para permanecerem fortes, é preciso que se planejem para operar com crescimento acelerado. “Isso significa conquistar market share e aumentar a base de clientes, visando o crescimento e, lá na frente, o lucro. Pois, no fim do dia, toda empresa precisa gerar lucro”, ressalta.

A própria Trivèlla M3 escolheu, em 2012, investir em uma empresa do setor de comércio eletrônico. A escolhida foi a FBITS eCommerce One Stop Shop, que não é uma loja virtual, mas uma fornecedora de soluções para o varejo online. E a FBITS optou justamente pelo caminho do crescimento acelerado. Foram dois anos e dois aportes para que, finalmente, a companhia fechasse em março deste ano o seu primeiro trimestre com a conta no azul. “Passamos por um período de forte investimento na companhia, criando vários novos produtos inovadores e com grandes diferenciais de mercado. Mantivemos a cultura da inovação para nos manter sempre a frente da concorrência, mas hoje, já temos produtos criados e em comercialização. Com estrutura sólida e preparada para o crescimento, a gestão interna tornou-se foco para manter a excelência no atendimento.”, afirma Rodrigo Schiavini, diretor de negócios da FBITS.

A realidade de players de médio e pequeno porte parece ser um pouco diferente. A ShopB, uma das maiores revendedoras de jogos eletrônicos do país, lançou-se no e-commerce em 2009. Desde então, consegue crescer e manter-se lucrativa. No ano passado, a loja obteve um crescimento 30% superior em relação a 2012.

Para conquistar crescimento e lucratividade, a ShopB aposta em ser uma empresa multicanal estando entre os principais comparadores de preços e marketplaces do mercado e no forte investimento em mídias sociais, sobretudo no Youtube. “A empresa foca muito também na integração da loja virtual com a física para atender os usuários que pesquisam na internet, mas gostam de retirar seus produtos pessoalmente. Dessa maneira, facilitamos a experiência de compra para o usuário”, afirma Gabriel Bollico, gerente de operações da loja.

Por enquanto, a ShopB não se preocupa com os grandes players do comércio eletrônico. A estratégia da loja é pensar além de ter apenas um bom site, bons produtos e preços competitivos.  “É necessário conquistar a conversão passo a passo, em cada detalhe. Todos os nossos diferenciais são cruciais para o fechamento de uma venda, já que estamos a um clique de nossos concorrentes e com compradores cada vez mais exigentes”, completa Bollico.  Na visão de Schiavini, é sempre extremamente complexo e custoso para um gigante do mercado engolir um varejo de nicho que faça sua lição de casa com perfeição. “O que pode acontecer é o varejo de grande porte comprar o menor, o que, de alguma forma, é bom para ambos. Um exemplo foi a compra da Zappos pela Amazon”, completa.

Desafios

Os números do e-commerce brasileiro são promissores. Enquanto o varejo tradicional vem apresentando crescimento anual, em média, de 7,5%, o eletrônico cresce quase 30% ao ano. Por esse motivo, é um prato cheio para investidores. A OQ Vestir recebeu, no final de março, o terceiro aporte, no valor de R$ 30 milhões.

Malczewski acredita que existem investidores apostando demais no varejo online, subvalorizando a necessidade de o segmento estabelecer um plano de negócios sólido. E isso, para o investidor, tem tudo a ver com a busca pela eficiência.

“Como estamos, ainda, no início do e-commerce brasileiro, ainda há muitas lojas que operam de maneira ineficiente, isto é, que têm sua gestão e sua operação arcaicas. Estamos falando de empresas de tecnologia que trabalham com ferramentas muito precárias”, enfatiza Malczewski.

Independente do porte, a fórmula para o sucesso das varejistas online precisa passar, necessariamente, por planejamento de gestão e automação de processos para que elas se tornem eficientes, cresçam e sejam capazes de gerar lucro. “Não estamos diante de uma bolha. Quem se preparar, irá se manter no mercado. A Amazon, por exemplo, consegue lucrar. Foi um longo caminho, mas hoje pode afirmar que ganha dinheiro. Eu me pauto por empresas como essa. E fica a lição para as brasileiras: é preciso ter um plano sólido, que no futuro seja capaz de reverter a curva do prejuízo em lucro”, enfatiza Malczewski.